O papagaio que sabia dizer “Ave Maria”

 

Ao voltar-se surpreso, Irmão Bartolomeu viu o papagaio saindo pela janela oposta. Ainda gritou, chamando-o de volta, mas ele já voava contente por cima das árvores. Péssima hora para escapar…

 

papagaio

 

Autora: Mariana Morazzani Arráiz

 

O ambiente alegre e festivo de uma antiga feira medieval era contagiante: centenas de pessoas, adultos, jovens e crianças, moviam-se continuamente, falavam, cantavam, gesticulavam, discutiam preços ou simplesmente se distraíam. Iam lá para comprar? Para comer? Ou só para ver as novidades? Tudo isso e algo mais. Nessas feiras podia-se encontrar de tudo.

 

Em uma tenda, um estrangeiro de longa barba escura vendia tecidos preciosos das mais variadas cores; ao lado, um ferreiro demonstrava a qualidade de suas facas (“Veja, freguesa, nunca perdem o fio!”); mais adiante, um gordo e bonachão açougueiro, com avental todo salpicado de vermelho, pesava uma porção de carne numa balança de precisão duvidosa.

 

E além das vozes e idiomas que se misturavam, das crianças que choravam e dos vendedores que apregoavam suas mercadorias, sons de todos os instrumentos enchiam os ares, pois música é o que não faltava nessas ocasiões…

 

* * *

 

Naquele dia, caminhava em meio à colorida e movimentada multidão um homem barbado de meia-idade, baixa estatura, um tanto calvo e bem magro. Trajava uma surrada túnica marrom, com um cordão atado à cintura, e parecia ser muito estimado na região, pois quase todos o cumprimentavam cordialmente, e ele respondia da mesma forma. Por uns instantes, parava para conversar com o padeiro e metia dois pães na grande sacola que trazia; pouco além, pegava um queijo; mais alguns passos, uma dúzia de maçãs; noutra tenda, três repolhos. Mas – coisa curiosa! – ele a ninguém pagava um centavo sequer.

 

Como explicar isso? É que o bom homem, um irmão leigo franciscano conhecido pelo nome de Frei Bartolomeu, recolhia doações para seu mosteiro.

 

Depois de percorrer boa parte da feira e ter sua sacola quase cheia, foi despedir-se de um antigo conhecido. O velho Simão não comercializava alimentos nem tecidos, mas sua loja estava sempre cheia de gente curiosa. Ele vendia aves canoras e decorativas.

 

– Bom dia, Simão! Que novidades você tem hoje?

 

– Olá, Irmão Bartolomeu! Infelizmente o senhor chegou tarde… Hoje cedo vendi um belo pavão para a senhora condessa. Que animal mais lindo! Estou certo de que o senhor teria ficado encantado de vê-lo.

 

Enquanto falava, o velho tirava um pequeno papagaio de dentro de uma gaiola e o punha sobre a mesa. O pássaro, no entanto, ficou parado, sem fazer qualquer tentativa de fuga. Parecia um pouco tonto, pois balançava- se para um lado e para outro.

 

– E este bichinho? – perguntou o monge.

 

– Ah, este está muito doente, acho que vai morrer, e não tenho paciência nem tempo para cuidar dele. Estou pensando em torcer-lhe o pescoço, para abreviar-lhe o sofrimento.

 

– Oh, não faça isso! Por que não o dá para mim?

 

– Ora, Irmão, sei que muitas vezes falta comida aos pobres monges, mas o senhor estará querendo cozinhar um papagaio? – perguntou surpreso o velho Simão.

 

– Claro que não! Dê-me a avezinha, eu vou alimentá-la e tratar dela.

 

– Pois não, pois não, Irmão. Nada tenho a perder com isso. Aqui está. É até um favor levá-lo.

 

Isto dizendo, entregou-lhe o pássaro enfermo.

 

* * *

 

Sob os cuidados do bondoso irmão, o papagaio refez-se e cresceu, revestindo-se de uma nova e vistosa plumagem verde. E logo, fazendo jus aos atributos de sua raça, começou a imitar o que falavam os monges. Animado, irmão Bartolomeu começou a ensinar-lhe a Ave Maria.

 

– Que é isso, Irmão? Quer ensinar catecismo ao pássaro? – gracejou outro monge.

 

– Ora, não é bonito ver o animalzinho repetir a Saudação Angélica?

 

E falava alto: “Ave Maria!” E o papagaio repetia com seu “sotaque” característico: “Ave Maria!”

 

Passando por ali nesse momento, o Padre Guardião do convento também sorriu ao ver o Irmão Bartolomeu no seu labor de ensinar o pássaro. E o preveniu:

 

– Cuidado com seu “aluno”, Irmão, pois esta tarde anda pelo vale Jacques, o falcoeiro!

 

De fato, olhando pela janela, Irmão Bartolomeu pôde vê-lo à distância. Ele tinha sérias razões para não gostar do falcoeiro. Jacques sabia que em volta do mosteiro franciscano sempre voavam pássaros de várias espécies, pois o lugar silencioso e pacífico lhes servia de abrigo. Assim, quando a caça andava fraca nos vales da região, ele terminava seu percurso próximo ao convento, certo de encontrar presas fáceis e desavisadas nos telhados dos frades.

 

Muitas vezes Bartolomeu tinha visto as mais brancas pombas perecerem despedaçadas nas garras dos falcões. Mas o que mais lhe doía era o fato de Jacques ser um mau cristão que freqüentava tabernas e escarnecia da fé popular.

 

Estava o frade imerso nessas lembranças, quando de repente um aviso o chamou de volta à realidade:

 

– Cuidado, Irmão Bartolomeu, o papagaio fugiu!

 

Ao voltar-se surpreso, viu o vulto verde saindo pela janela oposta. Ainda gritou, chamando-o de volta, mas ele já voava contente por cima das árvores. Péssima hora para escapar… O bom frade já via, ao longe, um grande falcão que, voando em círculos à procura de alguma presa, subitamente avistou o papagaio e se precipitou sobre ele como uma flecha. Em vão o Irmão Bartolomeu procurou adverti-lo, o pequeno pássaro nem sequer ouvia sua voz.

 

Quando este, afinal, deu-se conta do perigo, já era tarde demais: o falcão já estava sobre ele. Apavorado, o papagaio não teve senão a reação instintiva de gritar tão forte quanto podia:

– Ave Maria!

 

Qual não foi a surpresa de todos quando, mal esse brado saíra do bico da espavorida ave, viram o falcão precipitar-se morto por terra, como se tivesse sido fulminado por um raio!..

 

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2006, n. 53, p. 46-47)

 

22 Responses to “O papagaio que sabia dizer “Ave Maria””

  1. Lúcia de Fátima Pereira Feitosa disse:

    Gostaria que todas as crianças lessem estas hisóeria, principalente as que são de familia católica.

  2. assunçao de castro disse:

    Li com enorme emoção as historinhas. Vou levá-las para meus netos que aprenderam a ler agora e estão lendo tudo o que veem.
    Esses pequenos textos falam de um mundo distante da midia e por conseguinte, distante do conhecimento das crianças.
    Deus ilumine voces!
    Saudações no Coração de Maria!

  3. Valéria disse:

    Belas histórias, como seria bom se pudessem colocá-las em ” livro ” e vendessem , pois nem todos possuem computador. E para estimular boa leitura às crianças ,o livro seria excelente e é uma boa opção dar de presente para as mesmas.
    Que Nossa Senhora os abençoe.

  4. marli alves gramiscelli disse:

    Gostaria de agradecer pelos emails recebidos, gosto muito de ler as estorias para crianças da revista Arautos do Evangelho,porque atraves dela tiramos lições de vida.A respeito da estoria do papagaio ,o que tiro de lição e que não só nos os seres humanos recorremos a Nossa Senhora na hora de aflição e do perigo, os animais tambem…

  5. Sérgio Itamar Alves disse:

    Gostaria de poder repassar para as minhas netas,podem encontrar uma forma?Abs

  6. Clarice Inêz Leal de Sá disse:

    Como seria bom, se os pais de hoje, descobrissem o valor dessas pequenas atitudes, que tanto educam as crianças, que hoje necessitam, mais do que nunca, de uma orientação correta.
    Ótima iniciativa a de vocês.

  7. Itajacira Bastos disse:

    Que Historia linda, adorei!

  8. Reginaldo disse:

    Muita boa esta história, e a continuação?

  9. Reginaldo disse:

    É incrível como o amor de mãe é poderoso e divino.
    Maria é Nossa eterna advogada diante de Deus.

  10. Fidelcino disse:

    Gostei da historinha e vou conta para minha Netinha.
    Com tanto exemplo de vida, ainda tem pessoas que não gosta de historia assim.
    Fidelcino

  11. Adorei as histórias! Elas vão me ajudar muito nos encontros de catequese infantil. Maravilha!

  12. rwegina maria dias pereira disse:

    adorei a historia do papagaio vou contar para os meus filho.

  13. adriao adriano teixeira da costa filho disse:

    Faço minhas as palavras da irmã em Cristo Valéria says, ditas mais acima:
    Belas histórias, como seria bom se pudessem colocá-las em ” livro ” e vendessem , pois nem todos possuem computador. E para estimular boa leitura às crianças ,o livro seria excelente e é uma boa opção dar de presente para as mesmas.
    Já fiz essa mesma sugestão, aquando da leitura do “Pirilampo” e “Procurava um emprego, encontrou uma mãe”, mas não obtive nenhuma resposta até agora.
    A Paz de Deus esteja sempre conosco!
    Salve Maria!

  14. Sérgio Itamar Alves disse:

    Encontrar uma forma, em que se possa encaminhar(remeter) as histórias para as crianças.Abs

  15. Ivo Henriques disse:

    Salve Maria, Arautos do evangelho. Gosto muito das Historias contadas por vos, ajudam-me bastante, primeiro a ser um bom Cristao Catolico e segundo porque o que eu aprende e estou a aprender posso ensinar aos outros. Ivo Henriques de Mocambique.

  16. roseliamorimvanderlei disse:

    DEUS diss deixai que as criancinha venham a mim.Somente os puros e humildes de coração entrarão no meu reino. Amai a quem vos ama com o coração cheio de alegria.
    Assim seja.Amém.Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado, Amém.

  17. Paulo disse:

    Às vezes nos falta paciência e persistência daquilo que assumimos, porque somos imediatistas, queremos frutos ou milagres, mas não sabemos cuidar direitinho das nossas coisas, e na primeira oportunidade abandonamos o nosso objetivo. O “Irmão” teve a santa paciência de ensinar a rezar uma Ave Maria e foi persistente e constante até um dia essa ave correr perigo de vida. Valeu a recompensa da Vida ao pronunciar as singelas palavras que lhe foram ensinadas com afinco e ardor.

  18. Leticia Chessi de Melo disse:

    Adoreii essa história foi muito legal !
    Isso que dizer que AVE MARIA resolve tudo e nossa senhora ajudou !
    Isso quer dizer que Deus é PODEROSO e FIEL !
    I LOVE DEUS E NOSSA SENHORA E OUTROS .

  19. Miguel disse:

    Na hora do desespero,a Ave Maria é a mão de deus, feliz aquele que tem jesus no coração.
    Miguel.

  20. Ezilda Alves do N.Pereira disse:

    Já contei esta historia para diversas pessoas, elas a acham maravilhosa.Minha neta está cursando a catequezi, vou dar para a catequista dela ler para as outras crianças.

  21. Néry disse:

    Muito bom fatinho sobre o poder da Ave Maria, continuem a publicar pois leio com verdadeira devoção essas pitorescas histórias.

  22. tays cristina disse:

    que linda história sempre gostei de ler nunquinha perdi uma edição

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